Na maioria das salas de aula do Brasil e do mundo, observamos nos últimos anos a presença maciça de pessoas biologicamente ativas ocupando carteiras, mas completamente desanimadas, desinteressadas, agitadas, muitas vezes irritadas e sem nenhuma perspectiva de futuro. Esse tipo de pessoa é o que considero Aluno. O próprio significado da palavra aluno já diz: “Sem Luz”. O aluno atual é uma pessoa ansiosa e completamente preocupada em terminar logo a escola, passar de semestre ou ano, e completamente obcecada por notas, não pelo conhecimento, ou seja, ele “estuda” para a prova e não para a vida. Costumo utilizar o termo “Aluno Fazedor de Prova”, pois ele é especialista em fazer prova não em estudar. Já o Estudante é uma pessoa preocupada em ter cada vez mais conhecimentos para a vida, é um aluno consciente, e isso infelizmente é o objetivo de uma minoria dos alunos nas escolas e universidades do Brasil. Dentro da universidade vejo todos os anos alunos que entraram em cursos muito concorridos, mas durante as aulas observo muitas fragilidades da base educacional, sendo sempre necessário fazer revisões de conteúdos do ensino médio e por incrível que pareça, do ensino fundamental. Poucos alunos vem com essa base. Como dizia o saudoso Professor Pierluigi Piazzi: “No Brasil temos milhões de alunos e pouquíssimos estudantes”. Assim, transformar alunos em estudantes é uma tarefa essencial de todo professor/educador e a neurociência pode ajudar em muito nesse contexto.
Os conceitos da neurociência vêm ajudando a aumentar a eficácia do processo de ensino. Mas, é importante frisar primeiramente, que a Neurociência não tem como objetivo dar receitas prontas para a melhoria do ensino. Ela fornece informações sobre a organização do sistema nervoso, as bases dos processos de aprendizagem e memória desse incrível sistema e as descobertas que todos os dias são publicadas referente a área da Neuroeducação. Portanto, conhecer o funcionamento básico no cérebro pode ajudar no desenvolvimento de condutas mais eficazes em sala de aula, pois olhamos para o cérebro do aluno e como podemos estimular esse cérebro para que o rendimento aumente. A abordagem da Neurociência em sala de aula não é nova. Ela vem sendo estudada e aplicada desde a década de 70, mas foi na década de 90, que é considerada a década do cérebro, que ela decolou. A partir de 2000, as abordagens neurocientíficas em sala de aula estudadas e produzidas por entidades direcionadas ao estudo da neuroeducação (por exemplo, a Sociedade Internacional da Mente, Cérebro e Educação (Imbes), a primeira a representar a nova ciência da mente, cérebro e educação da Universidade de Harvard desde 2004 nos Estados Unidos e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde 2007, que marca o reconhecimento global da neuroeducação compartilhado por 34 países-membros) estão crescendo a dada ano. Atualmente, a necessidade de ensinar com eficiência, principalmente pela velocidade que o conhecimento se difunde, faz com que as abordagens neurocientíficas ganhem importância. Um exemplo, seria explorar o que o aluno tem de experiência na sua vida para, a partir disso, inserir novos conhecimentos. Todos nós temos uma memória conhecida como memória de trabalho, localizado no Lobo Frontal (parte anterior no nosso cérebro) e essa memória é utilizada todos os dias para integrarmos os novos conhecimentos que adquirimos com os que já possuímos. Dessa forma, dar uma aula fazendo links que se aproximam da realidade do aluno com os novos conhecimentos, facilitam a compreensão do aluno e ele automaticamente começa a se interessar mais pela aula e pelo estudo, pois vê um significado no aprendizado. Caso a aula seja baseada em termos e/ou expressões desconhecidas, o aluno não correlacionará, não ocorrendo a integração dessas novas informações e o entendimento, e eventualmente o aprendizado, não ocorrerá. Em muitos momentos em sala de aula o aluno escuta o que o professor fala e não entende praticamente nada. Ele é fluente em português e simplesmente não entende nada, pois as informações que ele está ouvindo não fazem parte de sua memória de trabalho, não havendo integração impossibilitando a compreensão. O importante é fazer o aluno ver o conteúdo que se ensina de forma significativa. Muitas estratégias neurocientíficas se baseiam nisso.
O processo de aprendizagem basicamente utiliza três processos: repetir a informação, elaborar essa informação com conhecimentos já existentes e fixar essa informação. Dessa forma, transmitir o conteúdo de forma motivadora para o aluno, onde ele veja a aplicabilidade da informação na sua vida/profissão e dar subsídios para a elaboração ou aprofundamento dessa informação pelos alunos é o primeiro grande passo. A fixação depende de outros pontos e deve sempre se destacar a importância de se dormir bem. O sono faz um papel importantíssimo nesse contexto. O sono – ou melhor, as diversas fases do sono – representa a existência de formas funcionais alternativas de organização do cérebro e não a ausência de atividade neurônica coordenada. O sono é basicamente dividido em duas fases. A primeira conhecida fase de sono profundo ou fase não-REM (Rapid Eyes Moviments), é subdividida em 4 subfases onde observamos basicamente: a transição entre o estado de vigília e o sono com liberação de melatonina (neurormônio responsável pelo controle do sono – subfase 1); diminuem os ritmos cardíaco e respiratório (sono leve), relaxam-se os músculos e cai a temperatura corporal (subfase 2); os movimentos oculares tornam-se raros e o tônus muscular diminui progressivamente (subfase 3); liberação do GH (hormônio do crescimento) que pode provocar aquele momento que pulamos na cama e da leptina (hormônio produzido pelo tecido adiposo para controle da saciedade, ou seja, para não sentirmos fome enquanto dormimos) e o hormônio cortisol (hormônio relacionado ao estresse – acordar é um estresse – começa a ser liberado até atingir seu pico, no início da manhã para acordarmos (subfase 4)). A segunda fase é a fase de sono REM, onde observamos a máxima hipotonia da musculatura esquelética, ou seja, não conseguimos nos mexer, pois é nessa fase em que sonhamos e estudos já mostraram que é nessa fase que a consolidação das memórias ocorre. Durante o período de sono, normalmente ocorrem de 4 a 6 ciclos bifásicos com duração de 90 a 100 minutos cada, sendo cada um dos ciclos composto pelas fases de NREM, com duração de 45 a 85 minutos, e pela fase de sono REM, que dura de 5 a 45 minutos. Dessa forma, ter uma regularidade e uma qualidade de sono é muito importante.
As mudanças que deveriam ser adotados pelos professores que desejem utilizar os recursos da neurociência em suas aulas seria investir no estudo das bases neurológicas do aprendizado e da memória. Independentemente da área de atuação (Biológicas, Humanas e Exatas), os processos neuronais são os mesmos, o que muda é a forma como estimulamos nosso cérebro de acordo com a área de atuação. Assim, todo professor deve primeiro ter a vontade de melhorar sempre a sua aula e claro melhorar o entendimento dos alunos para aumentar a motivação. A motivação é a base do aprendizado e saber os processos neuronais auxiliam na construção de estratégias motivacionais que auxiliarão na atenção, rendimento e aprendizagem.
Prof. Dr. Alexandre César Santos de Rezende
Coordenador da Pós-Graduação em Metodologias Ativas do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores – IBFE.
Professor responsável pelas disciplinas: Neurobiologia Geral e Neurociência e Educação da Pós-Graduação em Neurociência aplicada à educação do Instituto Brasileiro de Formação de Educadores – IBFE.