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O hábito de estudar ouvindo música: herói ou vilão?

Os processos atencionais são extremamente importantes para o bom rendimento nos estudos. Quando vamos estudar, a atenção deve estar totalmente ativada, caso contrário, não obteremos o que precisamos: assimilação eficiente dos conteúdos estudados. Percebo muitas vezes que muitos alunos tem o hábito de estudar ouvindo música. Esse hábito, embora muito comum, pode gerar problemas atencionais e prejuízo na assimilação de conhecimento.

Nosso cérebro possui dois hemisférios (esquerdo e direito) e, de modo geral, quatro grandes regiões, duas em cada hemisfério. No hemisfério esquerdo está localizado o nosso lado linguístico e logico-matemático e no hemisfério direito o nosso lado musical e espacial. Especificamente, no lado linguístico processa tudo o que está relacionado com atos de escrita, fala e linguagem e o lado musical, está envolvido com a musicalidade, ou seja, o som da música. Nas músicas que possuem letra, a letra é processada no lado linguístico. Dessa forma, estudar ouvindo música com letra (em português ou em outra língua que conhecemos), interfere nos níveis atencionais, pois compete com a leitura do que estamos estudando, prejudicando a assimilação do conteúdo. Eu já ouvi muitas vezes: “Eu já estou acostumado a estudar assim professor” e eu sempre digo: “Sim, a estudar errado”.

Em um experimento realizado na PUC-Campinas, verificamos que alunos que utilizaram o celular como televisão ou ouvindo música com letra tiveram um rendimento menor em número de páginas lidas de um texto de 16 páginas em 30 minutos (7,5 páginas) e questões acertadas em um teste pós leitura (0,7 questões), comparados a alunos que leram o mesmo texto ouvindo música clássica ou em silêncio (9 páginas lidas e 2,0 questões inteiras corretas). Assim, devemos ter sempre consciência dos processos de aprendizagem para termos maior eficiência nos estudos. Se você tem o hábito de estudar ouvindo música com letra e/ou assistindo televisão, tente fazer o teste estudando com música sem letra ou em silêncio. Contudo, se você não gosta de nenhum barulho na hora de estudar, eu aconselho a não mudar o hábito, pois provavelmente você tem um perfil de estudar sem ruídos.

Outro ponto bem interessante é fato de observar que alguns alunos dizem que estudam matemática ouvindo música com letra (Rock’n roll, por exemplo) e afirmam não terem problemas de atenção e/ou concentração. Esse fato pode acontecer, uma vez que, quando estudamos números utilizamos o lado lógico-matemático. Dessa forma, o som a música é processado pelo lado musical no hemisfério direito, a letra da música no lado linguístico no hemisfério esquerdo e os números no lado lógico-matemático, também no hemisfério esquerdo, não havendo competição com a mesma área. Da mesma forma, se você não gosta de barulho e/ou ruídos quando estiver estudando, não faça o uso de música quando estiver estudando matemática. O importante é manter o foco na forma mais eficiente de estudar.

Concluindo, ter bom senso e claro, encontrar sempre a melhor forma de ter bom rendimento nos estudos, são atitudes de consciência de todo estudante. Testar novas possibilidades nos estudos possibilitará ao nosso cérebro encontrar novas formas de assimilação de conteúdos e assim aumentar a qualidade de consolidação e formação de memórias. Ter muita informação é interessante, mas se não tivermos conhecimento, essa informação será conteúdo superficial. Navegamos muito na internet para nos informarmos, mas temos que sempre lembrar que navegar é ficar na superfície. Nunca esqueçamos que é na profundidade que encontramos o conhecimento.

Prof. Dr. Alexandre César Santos de Rezende

Prof. Dr. Alexandre César Santos de Rezende

Atuar no ensino é algo que me faz extremamente feliz, ou seja, fazer com que as pessoas aprendam assuntos difíceis, mas de forma prazerosa, é minha principal missão. A Neurociência faz parte da minha vida há mais de 17 anos, trabalhando para que todos tenham a oportunidade de ter acesso a essa área maravilhosa e tão essencial em nossas vidas profissionais e pessoais.

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